Jornal de Guimarães, Música

JdG / A Ouvir #29

The Rolling Stones / Hackney Diamonds

(Polydor, LP, 2023)

Neste número fazemos uma espécie de memory lane por bandas que nos acompanham há décadas. Esta potência que algumas bandas conseguem, que é ir conquistando sempre novas gerações de seguidores, independentemente da época em que são descobertos. Tanto os Beatles como os Stones continuam a arregimentar seguidores e, por isso, a ser relevantes. Eu sou mais team Beatles, mas reconheço enorme valor aos Rolling Stones. Já fizeram música com sucesso suficiente para estarem descansados nas suas vidas. Não precisavam de fazer mais nada. Mas há algo que os move e que os faz manterem-se ativos em digressões que envolvem produções exigentes. Os Rolling Stones lançaram em outubro um disco novo e a discussão passa por testar a capacidade de resistência ao tempo, mantendo-se a mesma relevância do ponto de vista artístico e musical. Do ponto de vista artístico, os Stones já não terão muito a acrescentar. Já foram uma das bandas mais irreverentes. Hoje, a sua irreverência passa por desafiar os limites que o tempo impõe aos seus corpos, continuando a fazê-lo mesmo após a morte do carismático Charlie Watts. Do ponto de vista musical, os Rolling Stones mantêm a sua fórmula inalterada, com os Glimmer Twins a assumirem os comandos da composição e escrita das músicas. Basta que se mantenham fiéis a si próprios. E é isso que se ouve em “Hackney Diamonds”. Uma dúzia de temas, que só os Stones poderiam fazer. No caso dos Rolling Stones essa previsibilidade é sinónimo de que se mantêm como uma das mais fortes bandas de sempre. Cada vez que os ouvimos há sempre uma lição qualquer a retirar.


Simple Minds / New Gold Dream – Live From Paisley Abbey

(BMG, LP, 2023)

A música popular – pop, rock e pop-rock – está cheia de histórias de rivalidades entre bandas. Essas rivalidades são alimentadas, sobretudo, por grandes corporações em que se tornaram as editoras. Por exemplo, o disco novo dos Rolling Stones, foi seguido pelo lançamento de um novo single dos The Beatles. Ambos lançamentos com mega campanhas de promoção, publicidade e marketing. Podia lembrar-me de outros exemplos, mas aquele que me faz escrever este texto é uma batalha de popularidade entre outras duas bandas – os Simple Minds e os U2. Hoje parece não fazer sentido, mas as duas têm vários aspetos dos quais é possível traçar paralelismos. Ambas começaram na viragem para a década de 1980. Os Simple Minds lançaram “Once Upon a Time” em 1985 e os U2 lançaram “The Joshua Tree”em 1987. Tanto um disco como outro foram seguidos por álbuns ao vivo que venderam milhares de cópias. Hoje sabemos que as duas bandas estiveram perto de terminar e seguiram trajetos muito díspares. Em todo o caso, costumo dizer que os Simple Minds conseguiram envelhecer melhor do que os U2 e os últimos discos e digressões têm provado um pouco isso. O último exercício dos Simple Minds foi regravar ao vivo um dos seus discos mais marcantes, “New Gold Dream”, uma igreja do século XII. O registo está muito bem gravado e recupera de forma fiel o disco original, lançado em 1982. Só restam dois elementos da formação original da banda, mas a atual formação já circula há uns longos anos, enchendo estádios e arenas por toda a Europa. Os U2 também continuam a revisitar a sua carreira, depois de terem tocado no novo hiper-tecnológico The Sphere, em Las Vegas, já sem o seu fundador e baterista de sempre, Larry Mullen Jr.

Estes textos foram originalmente publicados na edição de novembro de 2023 da revista do Jornal de Guimarães.

Standard